sábado, 22 de novembro de 2008

Cineasta promove oficina para jovens de Santo Amaro



Por Guilherme Machado

O cineasta Lula Gonzaga, idealizador do projeto “Cinema de Animação - A SAGA AUDIOVISUAL” está se preparando para iniciar um novo curso de animação artesanal para jovens de Santo Amaro.

Lula foi convidado pela Fundarpe, Fundação do Patrimônio Histórico e artístico de Pernambuco, para realizar o projeto denominado de “Desenhando Culturas”, ação governamental que visa promover capacitação na área de animação para jovens carentes do bairro de Santo Amaro, localidade com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de Recife. O cinesta vai levar a sua estrutura para o bairro, onde as aulas devem começar em janeiro de 2009.

Segundo a presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, a proposta visa capacitar profissionalmente os jovens, através de cursos específicos de animação, além de gerar novas oportunidades para esses alunos, no intuito de garantir um futuro para esses cidadãos. “A primeira turma que se formou no Desenhando Culturas produziu um filme de 15 minutos, onde todos participaram e cada um desenvolveu uma cena. O filme, inclusive, já foi exibido em diversos países. Além de desenvolver o profissional, queremos desenvolver o cidadão.”, conclui Luciana.

Após o sucesso inicial, a ação vai retornar ao bairro de Santo Amaro para atender outros 15 alunos, todos eles estudantes de escolas públicas da região. “Vamos aproveitar essa etapa para dar mais experiência aos alunos veteranos, do primeiro curso. Com a minha supervisão eles vão ministrar esse novo curso e vão aprender a compartilhar o conhecimento com esses novos alunos”, declara Lula.

De acordo com Charles Souza, aluno da primeira turma do “Desenhando Culturas” o curso é uma ótima oportunidade para aprender os segredos da animação e uma chance de crescer profissionalmente. “Quando eu conheci o cineasta Lula Gonzaga e comecei a participar do programa, eu aprendi os conceitos de animação artesanal, que é feito através de desenhos feito a mão, e aprendi a linguagem do Flash, programa de computador que produz animações em formato digital”.

Recentemente, Charles foi convidado para compor a equipe de Lula Gonzaga, no Cinema de Animação. E está desenvolvendo trabalhos diariamente, no estúdio
, localizado na rua 13 de Maio, em Olinda, com o cineasta. “Da minha equipe de trabalho, temos duas pessoas que foram formadas no Desenhando Culturas.", afirma.

Após esse período, Charles já pensa em fazer carreira. “Desde pequeno que eu desenho. Trabalhar com animação é o meu sonho desde criança. Viver de animação seria fantástico para mim ou quem sabe até ser um cineasta. Pensar grande, não faz mal, né?”, questiona o jovem de 16 anos.

Agora, ficamos na expectativa que esse novo trabalho consiga promover educação, capacitação, experiência e perspectiva para esses jovens de Santo Amaro.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

[Crítica] Última Parada 174


A construção de Sandros no cinema e na TV

Por Aluizio Franco

Irônica coincidência a chegada de “Última Parada 174” nos cinemas meio à comoção popular de um outro seqüestro também “vigiado” por câmeras de todas emissores de TV: o caso da menina Eloah. Se existem poucas semelhanças na natureza dos episódios, muito pode-se discutir sobre o lugar da mídia na cobertura destes fatos. Assim como a tragédia do ônibus 174, seqüestrado em 12 de julho de 2004 rendeu, até agora, documentário e o longa de Bruno Barreto indicado a concorrer ao Oscar, a tragédia em Santo André oferece elementos de sobra para se concretizar num roteiro de cinema. Não só um, mais diversos, pois temos o desenrrolar da história do pai da menina que está foragido da Justiça de Alagoas.

Se a TV é imediata, vem primeiro, o cinema seria o espaço para uma reflexão posterior, até por questões de produção viria depois. O problema é que estes personagens da vida real já chegam no cinema estigmatizado pela sociedade através de jornais diários, telejornais... São sentenciados em poucos segundos e enganam-se aqueles que a “massa” assimila qualquer tratamento dado pelo melhor roteirista. No caso de “...174”, mesmo pautado por elementos piegas, abusando da comoção fácil (pobre menino órfão!), na sua tentativa de “humanizar” o Sandro Nascimento, o diretor Bruno Barreto realmente não convence ninguém. Na verdade, abusa da inteligência de qualquer um.

O filme gasta quase 1h30 desenvolvendo um personagem que talvez nem o próprio Barreto compreenda direito. Talvez não tenha uma opinião formada ou não quis explicitar neste filme. Ficou em cima do muro, porque nos 15 minutos finais conclui que o Sandro não teve motivo algum para seqüestrar aquele ônibus. Sabe aquela velha história de que você acordou num péssimo dia e tudo deu errado? O acaso do acaso do acaso. Uma incoerência narrativa tamanha, porque o que nos apresentado na maior parte do filme é: Sandro é capaz de se apaixonar. E amar de verdade, porque como diria Nelson Rodrigues: “Amar é ser fiel a quem nos trai”. Sandro também é leal ao seu amigo, demonstra carinho pela mãe, sentimento de amizade, honesto (queria pagar as dívidas de rua), de caráter (não denunciou seu colega de detenção), queria seguir carreira de rapper (podia até dar certo!), enfim... muitas cenas deixam claras que Sandro seria incapaz de atirar em alguém até que um belo dia está tudo ruim e ele se envolve num seqüestro de ônibus? Para Barreto ele é obrigado a fazer aquilo, se os policias não tivessem cercado o ônibus ele não teria aquela atitude.

A própria opção de explorar pouco o seqüestro em si mostra sua tentativa inicial de “humanizar”. Aqui seria uma ótima oportunidade para questionar a atuação da polícia da época, discussão em voga no caso Eloah e que atinge diretamente a esfera política. Acontecimentos como estes, transformados em shows midiáticos, que acompanhamos em telejornais como se fossem telenovelas com direito a trilha sonora mereciam uma abordagem mais responsável independente do tamanho da tela. Provavelvente haverá muitas histórias desse tipo para se contar e o cinema a TV sempre se apropriou delas. As duas linguagens que às vezes se confundem, no entanto, precisam encontrar o seu lugar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

[Livraria Cultura] Cineclube exibe títulos espanhóis

Por: Karina Pedrosa

Nos dias 17 e 18 de novembro, às 19hs, a Livraria Cultura em parceria com o Instituto Cervantes do Recife, fará a exibição de dois filmes espanhóis.

Nesta segunda-feira,17, estará em cartaz “Tesis – Morte ao Vivo” (Tesis, Espanha - 1996 - 125 min), de Alejandro Amenábar. O filme conta a história de Ângela, uma estudante de cinema que está em busca de uma tese sobre a violência no cinema e acaba se envolvendo em um mistério sobre os "snuff movies" (filmes que são feitos com assassinatos reais) e no quais podem estar envolvidos colegas de faculdades e professores.

Na terça-feira, 18, o filme exibido será “Pelos Meus Olhos” (Te doy mis ojos – 2003 – 106min), de Icíar Bollaín. O filme, um fascinante quadro familiar, parte da história de uma mulher que foge do marido levando consigo seu filho. Uma fascinante história na qual aborda os conceitos de lar, amor e proteção se confundem com inferno, dor e medo.

A apresentação de cada filme será realizada por Alberto Lombart, Coordenador Acadêmico do Instituto Cervantes. A entrada é um quilo de alimento não perecível.

Serviço:
Quando? 17 e 18 de novembro
Onde? Auditório da Livraria Cultura, às 19h
Endereço: Livraria Cultura (Paço Alfândega, R. Madre de Deus, s/n - loja 135 - Recife/PE)

domingo, 16 de novembro de 2008

Cinema também é coisa de criança!

Por Izabelyta Guerra

As férias nem chegaram e a criançada que curte filmes já pode conferir no Cine Rosa e Silva, nos Aflitos, o 6º Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI). Até 23 de novembro, mais de 20 curtas e longas-metragens de variadas nacionalidades serão exibidos durante a programação, que também vai contar com uma série de eventos e projetos especiais voltados para a meninada.

Recife é a última parada do circuito do festival, que começou em agosto no Rio de Janeiro, e passou por outras nove cidades brasileiras. Desde 2003, a proposta da consultora especialista em projetos culturais, Carla Esmeralda, e da atriz e diretora, Carla Camuratti, idealizadoras do projeto, já passou por 37 salas de exibição, acumulando mais de 120 mil espectadores pagantes, além de mais 260 mil crianças de escolas públicas.

A programação cinematográfica é dividida em seis partes, sendo todas elas exibidas nos fins de semana. A Sessão de Homenagem destaca os profissionais por seus trabalhos dedicados às crianças. Já a Sessão de Clássicos oferece a oportunidade de pais e filhos curtirem o prazer de assistir grandes obras infantis. Aqueles que preferem curta-metragem, vão poder conferir filmes de diferentes estilos artísticos e temáticos na Sessão de Curtas de Animação.

A Pré-Estréia Brasil e a Pré-Estréia Internacional vão promovem os últimos lançamentos do ano e divulgar os mais novos filmes infantis nacionais e internacionais. As cópias dos filmes estrangeiros, são todas dubladas. Os ingressos custam apenas R$ 4,00 para crianças e adultos. Oficinas de Cinema de Animação e Cinema Digital vão proporcionar, paralelamente às exibições, o conhecimento das técnicas de animação e dos diferentes estilos artísticos para o público infantil. O FICI também vai contar com a Tela na Sala de Aula, programação especial para as escolas da rede pública e privada de ensino.

Serviço:
Festival Internacional de Cinema Infantil
Data: de 14 a 23 de novembro
Local: Cine Rosa e Silva
Endereço: Avenida Conselheiro Rosa e Silva, 1460, Aflitos
Programação completa no site:
www.festivaldecinemainfantil.com.br

[Janela Internacional] Seleção confirma pluralidade


Por: Aluizio Franco

Conflitos amorosos, a câmara como protagonista e histórias pessoais. Esses foram os temas deste segundo dia da mostra competitiva da "Janela Internacional de Cinema do Recife", que aconteceu neste último sábado (15), no Cinema da Fundação. Temas tão plurais, abordagens tão diferentes. O que dizer então das origens? Israel, França, Canadá, México. No Brasil: Ceará, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro... e nem começou a Mostra Pernambucana ainda.

Mostra Internacional

Intitulada de "1 + 1 Nem Sempre é 2", a mostra internacional abriu o sábado com curtas explorando dramas afetivos. O clichê do acaso desenvolvido de forma delicada em "Encontros e Desencontros", por Sofia Coppola, estava presente no mexicano "En Trânsito", de Isabel Muniz Callejas. Após se conhecerem numa fila de emprego, o casal curte bons momentos até anoitecer, mas como ele está de partida para outra cidade, a concretude dessa união é frustrada. E agora me ocorre mais um clichê: o amor impossível.

Ao contrário deste e sem muitas invencionices no roteiro, Yann Coridian provou que 'menos é mais'. Com uma câmera ligada nos atores Malik Zidi e Sarah Le Picard, Coridian nos presenteou com diálogos e reações espontâneas e um filme de amor com a simplicidade necessária em "Le Baiser".

"The Tale Of The Little Puppetboy", no entanto, foi o que mais provocou reação da platéia, encerrando a mostra com risos em cena aberta. A desgraça alheia sempre foi material de piada, mas se tratando das aventuras sexuais de um boneco de massa de modelar em stop motion o resultado é hilário.

Mostra Brasileira

A primeira sessão da mostra nacional, "Papel da Câmara", apresentou curtas em que a câmara era discutida ora objetivamente (sendo enquadrada), ora subjetivamente (explorando outras possibilidades de movimentos e ângulos). "Longa Vida Ao Cinema Cearense" dos Irmãos Pretti, utilizou um recurso que lembra bastante o plano-seqüencia de "Elefante", de Lars Von Trier. Isso traz a tona a velha discussão: até onde pode ir o exercício estético do diretor? E o conteúdo, pode ser esquecido? Bem, essas são perguntas que voltarei a discutir em outro momento.

A mostra brasileira seguinte, "Salvar Arquivo", exibiu dente outros filmes, "Irmãos Collyer", documentário sobre os personagens-título que morreram soterrados pelos próprios objetos que acumulavam descontroladamente. Narrando a história do modo de produção capitalista paralelamente ao fato curioso, o curta consegue criar um discurso crítico inteligente em relação ao consumo desenfreado de nossa sociedade.

Igualmente interessante, "Ismar", de Gustavo Beck, apesar de divertir bastante, levantou uma questão que já teve um tratamento sério em "Magnólia", de Paul Thomas Anderson. Ismar, personagem da vida real, se assemelha com o garoto Stanley de Anderson, que obrigado pelo pai, participava de um programa de TV de perguntas e respostas em busca de prêmios. Alias, hoje temos uma garotinha de muito sucesso na TV brasileira que pode estar passando por situação semelhante.

Encerrando a noite, foi exibido pela primeira vez na cidade, o novo longa-metragem dos irmãos Coen (Onde Os Fracos Não Têm Vez), com estréia prevista para 28/11.

(Texto publicado no site www.boivoador.com)

Fotos: (1), (2) e (3): divulgação